Sou Zahy Tentehar, performer, cineasta, atriz e ativista do povo Tentehar-Guajajara. Nasci na reserva indígena Cana Brava, no Maranhão, e minha primeira língua é a originária do meu povo, o ze’eng eté (“fala boa” ou “fala verdadeira”). Sou uma das protagonistas da segunda temporada da série “Cidade Invisível” da Netflix.
Enquanto artista multidisciplinar, busco entrelaçar diálogos inovadores entre diferentes linguagens, questionando o comportamento da humanidade e suas intervenções socioculturais na contemporaneidade. Meu filme mais recente é “Karaiw a’e wà” (2022), uma videoinstalação desenvolvida para “Nakoada: estratégias para a arte moderna”, do MAM-RJ. Resgatei a palavra “karaiw”, que significa civilizado, para questionar a construção do indígena “selvagem” e “bárbaro”, imagem enraizada pela colonialidade. Na obra, a invenção da civilidade é colocada à prova juntamente com os ideais de progresso, intelectualidade e modernização. Esse trabalho, que é uma projeção em vídeo, é motivado pelo desejo de rebater estereótipos e valorizar os conceitos, filosofias e intelectualidades indígenas. Ao mesmo tempo, convoca as responsabilidades ambientais e coletivas dos sujeitos autodenominados “civilizados” por meio de uma experiência imersiva e sensorial. “Karaiw a’e wà” perpassa, ainda, as noções de luto e marginalização vividas pelas culturas indígenas, bem como os silenciamentos e apagamentos históricos.